Os métodos são estratégias que a investigação
científica utiliza para atingir uma conclusão ou para testar hipóteses
explicativas acerca do comportamento e dos processos mentais.
Costuma-se distinguir métodos explicativos de métodos
descritivos ou qualitativos. O método experimental é um tipo de método explicativo.
A observação naturalista, os métodos introspetivos, clinico e psicanalítico são
considerados exemplos de métodos descritivos. Esta distinção tornar-se-á clara
conforme avançarmos neste novo capitulo tal como a ideia de que nenhum método é
escolhido por simples gosto: o método escolhido ou criado é o que melhor se
enquadra na perspetiva teórica que o investigador adota e aquele que este se
considera mais apropriado para os seus objetivos.
O método introspetivo
Reconhecido por Wilhelm Wundt como o mais apropriado
para estudar a experiência consciente, a introspeção laboratorialmente controlada
foi primeiro método da Psicologia.
Vimos que para Wundt, o objetivo da Psicologia era
conhecer a estrutura da experiência consciente decompondo-a nos seus
constituintes mais simples. Como é fácil de compreender, o único método
adequado para o estudo dos estados de consciência é a auto-observação ou
introspeção (também denominada, por Wundt, “perceção interior”). Quem vive um
determinado estado de consciência descreve-o verbalmente com o maior rigor possível,
em condições que obedecem a controlo experimental. Não se trata, portanto, de
introspeção no sentido habitual do termo: quem participava nas experiências de
Wundt era treinado, em laboratório, para responder descrevendo a sensação em si
mesma e não os objetos a que ela se refere. Assim, o que interessava a Wundt era
que os participantes descrevessem o que se passava na sua consciência e não
como os objetos eram constituídos.
“A introspeção, ou perceção interior, tal como
praticada no laboratório de Wundt em Leipzig, seguia condições experimentais
estritas, que obedeciam a regras explicitas: (1) o observador deve ser capaz de
determinar quando o processo pode ser introduzido; (2) deve estar num estado de
prontidão ou de atenção concentrada; (3) deve ser possível repetir a observação
várias vezes; (4) as condições experimentais devem ser passiveis de variação em
termos da manipulação controlada dos estímulos.
Wundt raramente usava o tipo de introspeção
qualitativa em que o sujeito apenas descreve as suas experiências interiores,
embora essa abordagem fosse adaptada por alguns dos seus alunos, principalmente
Titchener e Oswald Külpe. A espécie de relato introspetivo que acerca do
tamanho, da intensidade e da duração de vários estímulos físicos – os tipos de juízos
quantitativos feitos na pesquisa psicofísica. Só um pequeno número de estudos
envolvia relatos de natureza subjetiva ou qualitativa, tais como o caráter
agradável ou não de diferentes estímulos, a intensidade de imagens ou a
qualidade de determinadas sensações. A maioria dos estudos de Wundt baseava-se
em medidas objetivas que envolviam sofisticadas equipamentos de laboratório, e
muitas dessas medidas referiam-se a tempos de reação, que podiam ser registados
quantitativamente. A partir dessas medidas objetivas, Wundt inferia informações
acerca dos elementos e processos conscientes.”
[Daune P. Schultz, História da Psicologia Moderna, 10ª
edição, Cultrix, pp. 82-83]
O trabalho de Wundt e o seu recurso à experimentação contribuíram
para que a Psicologia começasse a trilhar o caminho da ciência. Contudo, o
método utilizado, a introspeção, foi fortemente criticado e considerado pouco científico.
A falta de objetividade do método introspetivo
contribuiu para que se impusesse o método experimental como metodologia típica
da jovem ciência chamada Psicologia. Hoje em dia a introspeção sobrevive
integrada noutros métodos como o método clínico mas não tem autonomia ou
existência independente. E por que razão é integrada noutros métodos? Porque se
admite atualmente que, apesar de imperfeitamente, é possível representar o que
sente um individuo que nos relata o seu estado psíquico, ou seja, que não é
absoluta e total incomunicabilidade das experiências psíquicas.
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